quarta-feira, 16 de julho de 2008

Ninguém gosta do Superman



Amigos leitores, amantes do automobilismo, eu tenho apenas vinte três anos e confesso: ainda adoro historias de super-heróis. Os novos, os antigos, os famosos, os inéditos, não importa, o ser humano adora a fantasia de um dia poder contar com super poderes. Porém, dentre as minhas pesquisas apuradas notei uma coisa em comum, quase 100% das pessoas com quem já comentei sobre esse assunto me diz “Eu não gosto do Superman”. E a explicação é simples, ninguém derrota o Superman, ele é invencível, ele não é humano, fica embaixo d’água o tempo que quiser, não sangra, não sente dor, não erra, pode sair da atmosfera da Terra, pode dar a volta ao mundo, já se deu ao luxo de voltar o tempo, pode subestimar seus adversários, mas que adversários? O Superman não têm adversários, ele esmaga a todos, tem supervelocidade, visão raio-X, audição superaguçada, ou seja, Superman é o defensor invencível, e só uma coisa o enfraquece, a Kriptonita, o que faz com que todos os seus episódios contem com isso, não há novidades, não há planos mirabolantes, todos sabem que em algum momento a pedra verde irá aparecer para dar uma chance aos vilões. O Superman é o herói ao contrário, é verdade, enquanto os heróis convencionais lutam contra vilões cada vez mais capacitados, desafiando as suas limitações naturais, Clark Kent é ilimitado, são os vilões que lutam para superar o herói que nunca perde. Por isso que, quando pergunto qual seu herói favorito, a maioria fala Batman, e o Batman não tem nem poderes, apenas parafernálias tecnológicas. Homem de Ferro, Quarteto Fantástico, Homem-Aranha, os X-Men, todos esses são heróis com poderes limitados e possuem um tendão de Aquiles. Os fãs buscam a superação, o sacrifício, o desafio.

O que quero dizer, amigos leitores, é que nas primeiras 5 temporadas da Fórmula 1 do novo milênio, o Superman deu as cartas, a bordo de uma Ferrari imbatível, um piloto que nunca errava, que vencia com uma, duas, três ou quatro paradas, o piloto que fazia poles, que vencia corridas em demasia e, mesmo que aparecessem alguns vilões, como Raikkonen, Montoya, ou até mesmo Barrichello, em uma corrida ou outra o super-herói deixava a Kriptonita aparecer e alterar o resultado. Schumacher foi gênio quando os gênios estavam em falta. A época de ouro da Fórmula 1, com Senna, Mansell, Piquet, Prost, encerrou-se em 1994, com um desfecho deveras conhecido. Sobrou Schumacher, que perdeu as batalhas para Adrian Newey, em um carro Ferrari que demorou anos para se desenvolver até que pudesse entrar diretamente pela briga do título. É verdade que Michael Schumacher teve vilões um tanto quanto abaixo da média, Damon Hill, Jacques Villeneuve e Mika Hakkinen sempre foram questionados sobre suas capacidades. E quando Schumacher acertou a mão, aí vieram os cinco títulos mundiais e uma superioridade avassaladora.

Mas, como disse no título dessa coluna, ninguém gosta do Superman, ele é forte demais, não deixa brechas para os adversários, quando perde, perde para ele mesmo. É bem verdade. E é comprovável.

Até o final de 2004, quando Michael Schumacher foi heptacampeão, ninguém mais agüentava a mesmice que virou a Fórmula 1. Aos nossos domingos pela manhã, Rubens Barrichello não ousava ultrapassá-lo, e, quando ousava, a “Liga da Justiça” fazia com o mesmo abrisse passagem, os adversários poderiam até tentar se unir, mas como vencer um inimigo que não é deste planeta? As apostas não tinham mais graça, o interessante nos “bolões” que por aí se estendiam, era para saber quem completaria o pódio, ninguém gosta do herói invencível e previsível que se tornou Michael Schumacher. Ele era antipático, arrogante e sua soberba era visível. Ninguém gostava do alemão que humilhava seus adversários. A Fórmula 1 era de Schumacher.

E em 2005 a Kriptonita foi descoberta. A Ferrari errou a mão, por culpa dos fracos pneus Bridgestone e ascensão da Michelin, que fez uma parceria vitoriosa com a Renault, e a McLaren correndo por fora. Há muitos anos a Fórmula 1 viu Michael Schumacher fora da briga do título, o herói invencível havia enfraquecido. Mas com a perda de suas habilidades, Schumacher ganhou, talvez, a única coisa que lhe faltava, a simpatia do torcedor. Pela primeira vez em anos nós vimos um Schumacher que erra, que sai da pista, que balança o carro, que busca o limite para alcançar seus adversários, que perde, que briga, que vence de forma heróica. Quem não se lembra de sua última corrida saindo do último lugar após um pneu furado no GP Brasil de 2006? A ultrapassagem magnífica em Kimi Raikkonen nas voltas finais. Pouca gente se lembra da corrida administrativa de Fernando Alonso que venceu o campeonato. Todos se lembram da vitória de Felipe Massa, e da corrida endemoninhada do alemão, que mesmo maduro, corria como um garoto que fazia sua estréia e precisava mostrar serviço. O Schumacher de 2005 e 2006 não foi vencedor, pelo menos não de corridas e títulos, mas ganhou muito, ganhou carisma, fazia sacrifícios em busca da vitória, buscava o limite do carro e vencia ou perdia de forma heróica. Ganhava suas cicatrizes, pois elas que carimbam o passaporte de um bom herói.

Em 2006, o herói enfraquecido via um vilão em ascensão, Fernando Alonso poderia bem ser o Lex Luthor tão temido que conseguia ter em mãos a Kriptonita e assim, se aproveitar para conseguir vencer. Logicamente que é apenas uma alusão ao tema, Alonso é um dos pilotos mais corretos do grid, é um piloto completo e vencedor, o bicampeão mais jovem da Fórmula 1 não merece ser lembrado pela sua arrogância, mas sim pelos fatos, porém, teria de ser assim com Schumacher, e não é.

Schumacher aprendeu a se divertir e entreter o espetáculo. Sua torcida foi enorme na luta contra o espanhol, perdeu, mas perdeu com o sorriso de quem conquistou realmente tudo o que poderia conquistar, títulos, vitórias, poles, recordes, a imprensa, a crítica, o público.

Em 2007 e 2008 nós vimos algo que não conseguíamos ver nos anos anteriores, vimos quatro pilotos de personalidades tão diferentes brigando pelo título. Você poderia escolher o arrogante Alonso, o novato de carisma marcante, Hamilton, o frio e calculista, Raikkonen ou o latino, Massa. Em 2008 as opções quase se repetem e o campeonato fica imprevisível, pois sem o Superman, os heróis limitados mostram seus erros, mostram suas deficiências. Novos heróis, como Kubica, surgem, pois conseguem se sobressair sobre os já carimbados.

Portanto, caros leitores, gostaria de dizer que o Superman é chato, não tem graça ver algo que você sabe como vai acabar, que você sabe o desfecho, sem emoções ou expectativas. A Fórmula 1 pós-Schumacher é excepcional em termos de emoção e eu acho errado que falem que tudo isso é nivelar por baixo, Schumacher, sim, era acima da média. Os pilotos atuais como Hamilton, Raikkonen e Alonso, são excepcionais, Schumacher era genial, seu trabalho começou há 10 anos na Ferrari, é uma década de desenvolvimento e aperfeiçoamento, foram quatro anos sem título de pilotos, mesmo brigando pelo mundial, um trabalho a longo prazo em um time estruturado. Alonso fez o mesmo na Renault, mas não fez na McLaren, como Raikkonen e Massa pegaram o time pronto na Ferrari. Schumacher e sua trupe reorganizaram uma equipe que possuía um orçamento fabuloso e fizeram acontecer. O espírito de liderança, aliado há um segundo piloto fenomenal e uma equipe técnica que contava com os melhores profissionais fizeram a época de ouro da Ferrari. Prost e Senna dividiram títulos e brigas em 1990, Schumacher foi mais egoísta, não deixando brechas para Irvine ou Barrichello, era uma equipe milionária totalmente voltada para o trabalho de um piloto. Enfim, os telespectadores, torcedores, patrocinadores e a imprensa, gostam de ver o espetáculo, as brigas e disputas, e o Superman não deixa com que isso aconteça, porque ele é muito forte, ou seja, nada disso irá acontecer, por isso, meus amigos, todos preferem o Batman, por isso, meus amigos, que ninguém gosta do Superman.

Iceman®2008

11 comentários:

Anônimo disse...

Vejo o Schumacher muito diferente do Superman, pois para a maioria ele nunca foi heroi e sim um tremendo vilão.

Como vc mesmo disse, o alemão não teve adversários para brigar com ele, quando teve não eram pilotos excepcionais e mesmo assim o venceram. Em seus 7 títulos possuia um carro muito superior aos demais. Pilotava uma Benetton muito suspeita que só faltava atirar misseis e uma Ferrari super desenvolvida onde não havia adversários para a altura.

Estes últimos anos em que Alonso carimbou o INSS do alemão, a minha torcida e creio que da maioria era para ele penar mesmo, por tudo que fez.

Vejo o Superman muito acima do alemão. Acho que Schumacher está mais para Dick Vigarista do que para qualquer outra coisa.

Abraços!

Leandro Montianele

GiglioF1 disse...

Caro Iceman e super Leandro,

Iceman, como sempre postagem virtuosa e respeito a dedicacao ao dar uma vestimenta densa como voce faz com primazia...!! Parabéns.

Neste caso especifico , jogo com a camisa 10 no time do meu chapa Leandro ( nao aquele da cotuvelada...)

Schumi , grande piloto ... mas utilizou de armas que o superman jamis o faria.

Triunfou sim , com meritos, mas numa terra que nao havia adversários...No seu curriculum , ha poles e vitórias roubadas...
Ninguém é 98% honesta , como nao ha mulher 95% gravida.

Em 15 anos , ele nao será lembrado com a emocao de outros, exceto por uma estatística...

Também nao concordo com " um segundo piloto excepcional"...!!!..O Kimi nao merece isto!!!
abraco!!!!!!!!

Unknown disse...

muito oportuno o post, agora que o cmpeonato parece uma historia de quadrinhos.

Schumi foi sacana sim. não tem jeito. e que pena que foi, pois tinha muita habilidade. era un piloto, sim, acima da media.

e coincido com isso de que ele ganhou a simpatia do torcedor quando empezou a perder. quiza ele demorou para entender isso, mais agora esta fazendo barbeiragens acima de uma moto e curtindo muito.

acho que ele finalmente achou a paz

Iceman disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Iceman disse...

Caros senhores, normalmente não comento e deixo com que as pessoas sintam-se a vontade.
Apenas uma ressalva, pois com as declarações do Schumacher um dia antes do meu post ir para o blog, tem muita gente com raiva do alemão, com razão. Não estou levando em conta o caráter do alemão, mas sua superioridade ante os outros, quis fazer um paralelo entre os pilotos em igualdade de competição e um que se sobressaía. E Giglio, meu caro, o segundo piloto a quem me referia é o Barrichello, que mesmo sendo um dos melhores pilotos do grid não teve igualdade de competição.

Um abraço a todos.

P.S. Foi uma péssima declaração do alemão, extremamente deselegante. Muy amigo esse Schumacher!!!

Anônimo disse...

Foram anos de glória na união perfeita Schumacher-Ferrari, acredito que não irá se repetir tão cedo, principalmente por tanto tempo............

Anônimo disse...

Pois é pessoal, concordo também com o Leandro quando falamos da desonestidade do Schumacher, e quanto a declaração do alemão um dia antes do bom texto do Iceman ir ao ar, temos um post publicado exatamente antes que trata deste assunto.

Grande abraço a todos!

Deyvison Nascimento

Marcos Antonio disse...

É acredito que o Schummy,é melhor comparado a um vilão que usou d etodos os artifícios pra vencer e conseguiu.E com certeza,a F1 é outra sem ele,muito mais emocionante e imprevisível do tempo em que ele estava dominando a F1...

abraços!

Leandrus disse...

Pior que foi isso mesmo que aconteceu. Eu simplesmente odiava o Schumacher até 2005. Só passei a torcer por ele quando teve que tirar vários coelhos da cartola em 2005 e 2006; torcer fanaticamente, aliás, vibrando com cada resultado na frente de Alonso e xingando tudo quanto era coisa quando teve aqueles problemas na China em 2006 (era na China, né?).

Você falou do Kubica já no final do texto. Ele é um dos meus pilotos favoritos, mas esse ano minha torcida até esfriou por ele, porque ele vem se caracterizando por ser um piloto que não erra, e por isso quase não ultrapassa ninguém, "limitando-se" a voar nos treinos, a fazer várias voltas rápidas nas corridas e a seguir as Ferraris e aproveitar as brechas dadas a ele. Pô Kubica, assim vc vai virar um Superman! Vai ficar chato!

Ateh! Ah, e é claro, ótimo texto, ótima ligação entre assuntos!

Marcos - Blog da GGOO disse...

Schumacher vilão, Schumacher herói...
Teve adversários a altura, não teve....
Foi honesto, foi desonesto...
Simpático, arrogante....
Competente, sortudo....

E aí?? Ele é o superman ou Lex Luthor da F-1??

Tostines está sempre fresquinho pq vende mais ou vende mais pq está sempre fresquinho??

Difícil né??

Mas...opinião é como bumbum, cada um tem o seu!!

Anônimo disse...

O Schumacher é o melhor piloto que alguma vez passou pela formula um, acredito que nunca mais na vida passe pele F1 um piloto que super os records dele, um piloto que tenha uma condução tão boa como a dele, um piloto que não se deixa afectar por joguinhos estupidos, por tentativas idiotas de tentar pô-lo nervoso, com a expriência que ele tem nada disso o afecta. Tal como essas tretas de "eu não gosto do Schumacher porque ele bateu todos os records, porque ele é o melhor" isso a ele não o afecta, apenas mostra que todas as pessoas que dizem mal dele não o dizem porque é mesmo o que acham dele, dizem-no porque têm inveja de tudo aquilo que ele conseguiu e de tudo aquilo que ainda pode conseguir. Todas as pessoas que dizem mal dele e dizem que não gostam dele tentam arranjar uma piloto de F1 melhor que Schumacher, uns nomeiam Hamilton, outros Alonso, Kovalainen, Raikkonen, Massa, ou mesmo Kubica, depois pensam um bocadinho e chegam á conclusão de que nenhum desses chega sequer aos calcanhares de Schumacher e então partem para a agressão verbal, dizendo que ele não presta, que é arrogante, e que nunca fez nada para merecer aquilo que conseguiu quando na realidade sabem que tudo isto é mentira e que ele é mesmo o melhor do mundo e nunca ninguém o conseguirá bater, só não o admitem porque têm inveja, porque não conseguem realmente dizer "ELE É O MELHOR, MICHAEL SCHUMACHER É O MELHOR DO MUNDO", embora seja essa a vossa vontade, porque é realmente o que sentem.
Michael Schuamcher é o melhor do mundo e todos sabem disso embora ainda existam alguns que apesar de concordarem não o admitem.